domingo, 2 de setembro de 2012

Cem vezes, algo importa

E escrevia cem vezes a palavra “solidão”. Talvez fosse um pedido de socorro da alma que não era mais ouvida. 
De manhã,não gostava de se olhar no espelho. Seu reflexo a lembrava do tamanho vazio que carregava consigo. 
Suas lágrimas eram secas, e buscava em um sorriso fugaz, atravessar a imensa dimensão entre seu corpo e o mundo daqui de fora. 
Gritava de dor, mas do que adiantava? - Como sempre, ninguém a ouvia. 
Seu corpo pedia perdão ao mundo mais do quê qualquer outro pecado capital já cometido por si mesma. 
Enquanto isso, pegava uma folha de papel e descrevia com exatidão o que não podia falar. 
Era surda do mundo e muda de sentimentos.
Conversava com o papel em letras miúdas, apressadas pelo lápis e com o medo do único sentimento que podia sentir,se afugentar de si. 
Mas, no final acabava sempre bem. 
Ela, suas cem palavras de solidão e sua alma num imenso vazio de tudo.

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