São os cansaços. São as neuras. São todas as patologias, insanidades, todas as partes deformadas que me cabem com um precisão que nunca coube nem em ti, guri. Nem a ti.
Às vezes, um às vezes corriqueiro e insistente, não entendo. E nada, simplesmente nada traduz. Apesar de todas as referências plásticas, literárias, cinematográficas. Nada traduz. Eu também não aprecio arte mastigada, só quando bruta, crua ou cuspida. Eu também não me entendo com laços, apenas nós - cegos, marinheiros, enforcadores, pronominais. Dia sim, dia não, cogito guias, placas, mapas, segredos escondidos em roda-pés e notas queimadas; dia sim, dia não, penso ser a incompreensão a saída, busco a irrealidade; dia sim, dia não, encontro as palavras e as frases e sou a defesa de minhas teses, das minhas fases, sou a compilação ousada e arteira das minhas ideologias.
Mas os dias se resumem em dois segundos ou duas semanas, e as horas são todas fugazes. O tempo, meu tempo, teu tempo, o tempo exterior a nós, sempre errado. Sempre errante.
Meu devaneio chega a isto: teu olhar pedindo piedade, tuas mãos pedindo distância, e três homens traçando uma linha de segurança entre nós enquanto te seguravam à força, embora teu ataque esquizofrênico já houvesse passado.
Não olhar aos ponteiros deixa quase tudo ausente.
Eu te abraço quando todos vão embora, porque eles sempre se vão. Eu te abraço concedendo perdão e recebendo absolvição, sem penitências. Eu te abraço porque nosso desequilíbrio torna-se equilíbrio assim: na mútua compaixão.
É esta a fuga. É esta a paz. É esta a dualidade espiritual, entre ver liberdade ou ver solidão. Ou e.
Maturidade, finalmente, significa inconstância.